quarta-feira, 1 de julho de 2009

LEITURA EM MEMÓRIAS

Pensar em minhas memórias enquanto leitor é uma experiência onde diferentes sentimentos surgem após cada lembrança. As sensações repetem-se, a saudade acompanha.
Durante muitos anos minhas férias tinham um único destino, a casa de meus avós, eles moravam em um lugarejo tranqüilo e feliz. Tinha a impressão que o tempo demorava para passar. Meus avós moravam em um casarão, junto a casa ainda existia uma grande construção que em tempos distantes funcionou um armazém de secos e molhados, também um açougue. Toda essa construção mesmo abandonada era cercada por um belo jardim que minha avó cultivava com muito carinho. As flores eram as mais coloridas e perfumadas, adorava passear pelos canteiros, acredito que fiz grandes viagens ao caminhar pelos canteiros e explorar aquele pomar com muitas árvores frutíferas e muitos pássaros com diferentes colorações. Quanta saudade... parece que sinto o aroma do feijão preparado por minha avó no fogão a lenha. Adorava fantasiar personagens imaginários, mas que para mim eram reais príncipes, princesas, castelos, nossa eram fabulosos! Lembro tão bem... minha avó e eu lavávamos a louça do almoço, deixávamos a cozinha em ordem rapidinho para podermos ouvir a novela de rádio todos os dias às 13 h. Hum! Ainda ouço a vinheta da programação da rádio e as chamadas para os próximos capítulos. Acredito que despertei para o mundo letrado nas programações de rádio.
O tempo foi passando e imaginar ou olhar imagens já não satisfaziam minha imaginação, foi a partir da convivência com a vida escolar que recebi um novo elemento que me conduziria a novas histórias, novos personagens. Foi emocionante a experiência dos anos iniciais, a cada dia uma novidade, meu pai um grande incentivador, sempre que viajava trazia um livro para mim, mesmo sabendo que minha afinidade com o mundo da escrita era bastante limitada, os anos foram passando muitas histórias eu já conhecia, agora não mais por que a professora contava, mas eu lia, escolhia as histórias na biblioteca da escola, aliás um lugar que nunca saiu de minha memória, era extremamente limpo, e silencioso e os livros caprichosamente colocados na estante, encapados e numerados. Não sei qual o primeiro livro que li, mas com certeza li dezenas de vezes as histórias de princesas e finais felizes, A bela e a fera foi uma das narrativas que mais me marcaram. Acredito que os contos maravilhosos tenham sido lidos por mim centenas de vezes.
Sempre amei as aulas de língua portuguesa e história. Os professores destas disciplinas sempre foram meus preferidos, eram nestas aulas que eu mais me entusiasmava, mais participava, mesmo sabendo que todas as áreas foram importantes para minha formação, cada uma com sua singularidade.
Adolescência que fase cheia de dúvidas, sentimentos reprimidos, eram nos livros que encontrava refúgio, sempre havia um personagem, um enredo que podia identificar-me. E as revistas Sabrina, Júlia, quantos amores, quantas emoções, agora os príncipes já se caracterizavam de forma mais próxima da realidade.
E a escola ...ali tão próxima com seus professores tão dedicados na busca de envolver-nos com seus saberes..
Ensino médio fomos apresentados aos clássicos da literatura, para frustração de meus professores, eu não gostava dos clássicos da literatura nacional, isso era quase ofensivo, só depois de dramatizarmos a obra O cortiço, que desvelei a arte da literatura nacional.
Por todo o meu trajeto acadêmico sempre fui uma leitora compulsiva, hoje instigo meus alunos a lerem, os mais diferentes gêneros e autores. Fico assustada ao perceber que há professores tão resistentes ao trabalho com leituras, vejo a escola como o lugar onde deveria ser o mais provocativo, o mais instigante para realizar leituras e aguçar o gosto pelo ler.
Por Fábia Peron

Nenhum comentário:

Postar um comentário